sábado, 18 de dezembro de 2010

BORDANDO CIDADANIA

Desde pequena fui incentivada pelo bordado, através das minhas avós e consequentemente pela minha mãe, e quando cheguei aos oito anos de idade, me ensinou a arte de bordar. Quando tinha 12 anos de idade, minha mãe era proprietária de uma confecção, ai, comecei a participar da produção como aprendiz, e a partir daí iniciei a criação e confecção das minhas próprias roupas, o que abriu minha vocação para criar estilos, paralelamente cursei a Escola de Artes Plásticas Veiga Valle, até aos 18 anos. Envolvi-me em outras profissões comerciais, mas nunca abandonei o processo criativo que sempre gostei muito.
Aos 29 anos fui morar em Natal/RN encantei com a roupa de algodão bordada, muito comercializada no local. Voltando à Goiás um ano depois, resolvi trabalhar com roupa de algodão bordada a mão, utilizando o conhecimento e a experiência de criação, confecção e bordado das minhas roupas na juventude, comecei a fazer o resgate dos bordados antigos, utilizando os motivos dos casarios, poesia, literatura, iconografia da cultura e paisagem local. Optei bordar no algodão rústico, reinventado e ressignificando um tecido utilizado pelos negros no período colonial em Vila Boa de Goiás nos séculos XVIII e XIX.
A partir do resultado obtido por esta produção, inspirada nos saberes e fazeres das mulheres da minha família, minha mãe, minha avó, surgiu à necessidade de abrir um ponto comercial. Busquei um nome original que sintetizasse o que fazíamos a gerações. “Cabocla Criações” representa a nossa miscigenação.
Diante do sucesso do empreendimento, uma vez que era uma produção artesanal, usando elementos culturais, em um destino turístico e patrimônio cultural da humanidade, foi necessário aumentar a produção, busquei parceria com costureiras locais. A demanda por produtos era maior do que a minha produção, produzir mais era o grande desafio sem abrir mão de uma criação artesã em bordados à mão, pois esse é o diferencial do meu produto. Pesquisei na cidade novas possibilidades de parceria visando manter a originalidade do produto, foi quando encontrei nas mulheres encarceradas a parceria ideal. Oferecia-lhes uma ocupação, profissão e possibilidade de renda, elas garantiriam a produção de bordados à mão de que tanto precisava. Articulamos isso de forma legal com autorização do poder judiciário, resultando em um programa de remissão de pena. Iniciando a qualificação com oficina de bordados num público alvo de 10 mulheres. Após 2 ½ de parceria, o engajamento e entusiasmo das detentas foi tanto, que o trabalho se estendeu aos seus familiares e mesmo após a liberdade de algumas, bordar constitui a profissão e às vezes a principal fonte de renda dessas mulheres e seus familiares. O sucesso com as detentas despertou o interesse do sistema carcerário e da pastoral carcerária, sugeriram a inclusão das esposas dos detentos, pois as mesmas migram para cidade com o objetivo de apoiar seus esposos e encontram dificuldades de arranjar trabalho, ocupação e renda. Abrimos não só para as esposas, mas para os próprios detentos que se interessasse, estamos entusiasmadas com o resultado.
O fruto dessa parceria resultou no espaço “Cabocla Criações” lugar de alegria, encantamento, inclusão e difusão dos saberes e fazeres da nossa tradição em bordados antigos no tecido de algodão. O prazer dessa criação reflete na produção de belas peças, presentes que são difundidos, clientes que retornam e promovem a nossa produção no boca a boca. Tudo isso nos mobiliza em garantir a satisfação dos nossos clientes e o desafio de reinventar e recriar Vila Boa e continuar bordando os verso dos poetas, a curva dos nossos morros e a singela beleza dos nossos casarios.

sábado, 11 de dezembro de 2010






Venha conferir as novidades na Cabocla Criações.
Emanuella exibindo um vestido da Cabocla Criações

Milena Curado no Castelo de São Jorge,Lisboa-Portugal.
Cabocla atravessando o oceano.

Gil e Milena, vestindo Cabocla











Desfile Cabocla Criações